É com profundo respeito e devoção à natureza que nos dirigimos a todos aqueles que compartilham desta fé. Para nós, a Natureza é sagrada e representa a mais sublime expressão dos Orixás. Reconhecemos que nem todos têm a capacidade de se integrar plenamente com a Natureza em todas as suas formas, mas é nosso dever promover essa conexão e preservar aquilo que nos é mais sagrado.
O Candomblé, religião dos Orixás, ensina que a Terra é o bem supremo que possuímos. Ela é a nossa casa, nossa maternidade e paternidade, a terra que nos gerou e nos provê alimento. A água que mata nossa sede, revitaliza nosso espírito, purifica nosso corpo e fertiliza o solo para que seja abundante. As árvores nos fornecem oxigênio e sombra nos dias mais quentes. A chuva enche os rios, fertiliza a terra, e o arco-íris une o céu e a terra, mostrando a harmonia entre a chuva e o sol. As lamas têm poder de cura e revitalização. O ar que respiramos e o fogo que aquece, renovando através da queima. As folhas possuem propriedades curativas e calmantes. A Natureza é nossa casa, nossa fé, nossa religião e nossa devoção.
Com base nesses princípios, na Comunidade Portuguesa do Candomblé Yorùbá (CPCY), levamos muito a sério o princípio ecológico e a preservação da Natureza. Desde 2010, em uma época em que se falava pouco sobre consciência ecológica dentro dos terreiros, defendemos que as oferendas realizadas em lugares naturais, sejam matas, bosques, quedas de água, lagoas, riachos, rios, mares ou outros, sejam compostas exclusivamente por materiais perecíveis, ou seja, que se degradem rapidamente. Damos especial ênfase aos alimentos, pois podem ser consumidos pelos animais e se decompor facilmente.
Nesse sentido, somos contrários à oferta de louças, frascos de perfume, pratos, recipientes, talheres, pentes e outros objetos que representem as oferendas aos Orixás e que poluam os lugares sagrados da Natureza. Entendemos que sujar esses espaços é violar as divindades. O mar, por exemplo, é o útero de Yemanjá. Como um devoto de Yemanjá poderia aceitar a violação do útero de sua Mãe?
Assim, conclamamos todos os seguidores do caminho dos Orixás a adotarem práticas ecológicas em suas oferendas, respeitando a integridade dos espaços naturais e preservando a harmonia entre o divino e o mundo natural. Que nossa devoção esteja alinhada com a preservação da Natureza, demonstrando nosso amor e gratidão pelos Orixás e por tudo que a Mãe Terra nos proporciona.
Além disso, encorajamos a disseminação desses princípios ecológicos entre os praticantes dos caminhos dos Orixás, promovendo a conscientização sobre a importância da preservação ambiental em todos os aspectos de nossas vidas. Que possamos educar e inspirar outros a adotarem práticas sustentáveis, respeitando a interconexão entre todas as formas de vida e reconhecendo a Natureza como sagrada.
Por fim, lembramos a todos que a preservação da Natureza é uma responsabilidade coletiva, que transcende as fronteiras das religiões e das culturas. Ao seguirmos o caminho dos Orixás, temos o dever de agir em harmonia com a Terra, em respeito aos ensinamentos e divindades que reverenciamos.
Que os Orixás nos inspirem e nos guiem na busca por um mundo mais sustentável, onde a Natureza seja protegida e valorizada em toda a sua magnitude. Que nossa devoção se estenda além dos terreiros, refletindo-se em nossas atitudes cotidianas, para que possamos deixar um legado de respeito e gratidão para as gerações futuras.