Candomblé, uma palavra tão simples e no entanto tão cheia de significados… candomblé é amor, é humildade, é ancestralidade, é tradição, é respeito, é simplicidade, é fé, é vida, é força que nos cria nos move e nos une, é família, é viagem iniciática, é compromisso, é orientação, é união, é religião … e tantas coisas mais. Hoje sinto com toda a certeza que caminho na direção certa, em que o que importa não são o número de passos, mas sim que em cada passo que dou, dou com amor no coração, dedicação e alegria na alma, com a certeza que até ao fim da minha vida, continuarei a dar passos neste maravilhoso caminho. Muito feliz e orgulho por fazer parte desta família, onde a palavra “família” assume o seu verdadeiro e total significado e sentido. Muito grato ao Òrìsà por me ter guiado até à CPCY e ser filho de quem sou, A Dupé Mãe Sussu por existir.
Jô do “Tio”
Na casa da Mãe Sussu,
O respeito nasce com o sol: Laroyé Mójúbá,
dá-nos permissão para entrar?
Na casa da Mãe Sussu,
Amarra-se o ọjà, enquanto se confunde o branco das saias, com as preces a Osalá.
Na casa da Mãe Sussu,
Bate-se cabeça e paô, cheira a terra molhada: Ewe Ossain, chegámos à sua morada?
Kó si ewé, kó sí Òrìsà,
E depois do pàdé
O ọ̀rọ̀ vai começar..
Na casa da Mãe Sussu,
Tem ògás dedicados que amam ensinar,
Yakekerê carinhosa para cuidar,
E abians inquietos para criar
Na casa da Mãe Sussu,
Leva-se a sério o ajeum
Acassá, amalá e acarajé,
E sempre lugar na mesa para mais um
Na casa da Mãe Sussu,
todos entram para ver,
mas apenas alguns ficam para viver
A casa da Mãe Sussu,
Recebe Òrìsà no xirê,
Porque não há terreiro como este,
Assim, com tanto Àṣẹ .
Marta de Nàná
Cheguei à CPCY em 2021 com uma enorme sensação de vazio e desconexão. Estou imensamente grata pelo acolhimento e encorajamento que recebi, assim como por ter encontrado um espaço seguro onde aos poucos, me fortaleço, através do (re)conhecimento das experiências dos meus ancestrais e da partilha desta jornada com a Família de Santo que aqui ganhei. Como abian, ainda estou em fase de aprendizagem, mas sinto que cada dia na Comunidade é uma oportunidade para crescer e evoluir espiritualmente. Tenho-me descoberto como filha do Orixá das palhas e tenho procurado aprender mais sobre as minhas raízes ancestrais africanas e resgatar a crença na humanidade e na capacidade de amar e ter compaixão, mesmo perante as divergências e as adversidades, transformando as feridas que nos assolam em pipocas. Saúde e Vida Longa à CPCY, em especial a nossa líder, mãe Sussu 🤎
Tica do Tio
Quando conheci a CPCY eu era um abiã que pouco ou nada sabia sobre Candomblé. Lembro como se fosse hoje daquele domingo em que cheguei a comunidade e fui muito bem recebido pela Iyá e por todos, meu coração estava cheio tamanha a paz e a energia que senti ao adentrar os Portões da Herdade de Sesmaria Velha, era como se eu tivesse regressado a Casa depois de muito tempo distante, sentia me parte daquele lugar, como se tratasse de um Reencontro. Desde aquele dia eu comecei a minha trajetória engatinhando como um bebé rumo ao resgate da minha ancestralidade, através dos ensinamentos e da vivência em comunidade comecei a aprender coisas básicas como em qualquer casa aprende um Abiã. Ali o meu corpo aprendeu a curvar-se em reverência ao sagrado, aprendi a primeira cantiga, o primeiro Pao, aprendi sobre hierarquia, sobre respeito aos mais velhos etc. À medida que o tempo passava mesmo sendo um Abiã eu ia me tornando uma pessoa melhor, com ajuda da Mãe e de todos os meus irmãos.
Mesmo tendo tudo, um dia resolvi deixar de ouvir a Mãe e dar ouvidos a outras pessoas, e mesmo sendo alertado pela Mãe resolvi me aventurar por novos e desconhecidos caminhos, não demorou muito para ver que tinha feito a escolha errada, mas voltar atrás e admitir que errei e tentar reparar o erro por mim cometido, implicaria em engolir o Orgulho, passar por cima de tudo e no mínimo pedir perdão a quem sempre esteve correto, e eu ainda não tinha maturidade para isto, achei mais fácil seguir.
Passaram-se vários anos e durante este tempo passei por muitas coisas e por algumas casas, o que me trouxe sérios problemas, não foram poucas as vezes que me lembrei das palavras e dos concelhos sábios da Mãe , muitas vezes senti falta do carinho e da sabedoria dela que sempre me auxiliava, da união e da humildade de todos meus irmãos , muitas vezes me senti deslocado, aquela sensação de paz de reencontro que sentia antes já não mais existia, o conceito de família muito menos , a força, a união. Me via em meio a uma nova realidade antes tão criticada e abominada por mim, estava entre eles, mas não era um deles.
Hoje venho através desta carta formalizar, embora em palavras não consiga expressar o que sinto, Um pedido de Perdão a Oxum, Orixá da Casa, a Mãe Sussu, A meu Pai Ogan Junior de Oxoguian, A mãe Cláudia e ao meu Pai Ogan João e a todos meus Irmãos da CPCY. Sei que pedir Perdão não vai apagar meus erros nem tão pouco me safar das consequências de tal ato, mas é uma forma de demostrar o quanto eu sinto por ter cometido tal erro e virado as costas um dia a todos Vocês.
um filho do “Tio”