
A Origem e Missão da CPCY
A Comunidade Portuguesa do Candomblé Yorùbá (CPCY) nasce do desejo de ver o Candomblé reconhecido como religião de facto em Portugal, como parte do campo religioso português, não mais de uma forma subalternizada que o empurrasse para os caminhos do esoterismo, da espiritualidade, mas antes numa posição institucionalizada e juridicamente equiparada às demais «confissões» religiosas presentes no território nacional. Após uma intensa luta burocrática, apresentada a fundamentação jurídica, religiosa e histórica, em janeiro de 2010, nas comemorações do aniversário civil e do aniversário iniciático de Ìyá Sussu, líder religiosa desta comunidade, chega a carta do Registo Nacional de Pessoas Coletivas, serviço dependente do Ministério da Justiça, informando do reconhecimento da CPCY. Momento histórico. A partir de 19 de janeiro de 2010, o Candomblé e as formas diferenciadas de culto Yorùbá passam a figurar como parte do património religioso português, beneficiando de segurança jurídica. Através da Comunidade Portuguesa do Candomblé Yorùbá, o Candomblé configura-se como religião aos olhos do Estado português, dando exemplar passo num mundo onde as tradições religiosas de ascendência africana permanecem alvo de discriminação e perseguição. Desde os primórdios que a CPCY tem o propósito de convergir os sacerdotes em Portugal, aproximando agendas e criando um núcleo de diálogo, transparência e cooperação. Esse mote mantém-se fortemente presente.
Morada: Rua da Primavera 28 Coutada Velha, 2130-010 Benavente
O Candomblé é a jornada mais longa e difícil: em direção a nós mesmos. Quem se encontrar consigo mesmo, no silêncio do quarto iniciático (honko) encontra-se com os Òrìṣà
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O terreiro, a regência e os princípios
No Ilê Axé Iyá Odô – CPCY, regemos-nos pelo princípio de que embora o Candomblé seja uma herança africana, fundada por escravos e seus descendentes, na Bahia, é uma religião universal. A partir do momento em que cruzam o Atlântico, os cultos Orixás e Vodun, transformam-se, adaptam-se a uma nova realidade social e cultural. A abertura e a mudança, que deram origem ao Candomblé, fazem desta uma religião não mais de negros e crioulos. Mas, como se costuma dizer, “o Candomblé é para todos, mas nem todos são para o Candomblé”. E porquê? Em primeiro lugar porque participar do Candomblé é aceitar uma realidade religiosa e cultural onde o coletivo é mais importante do que o individual, ou seja, onde o propósito/o superior interesse da comunidade se sobrepõe à vontade individual. No Candomblé somos porque pertencemos, o “eu” existe porque existe o “nós”, e não o contrário. Ao se integrar na comunidade a pessoa passa a participar da hierarquia, da estratificação da comunidade, onde existem direitos e deveres, onde a antiguidade iniciática determina o acesso aos segredos. Assim, no Candomblé é o posto religioso, o cargo, que determina a posição na hierarquia, não o status do sujeito na sociedade para lá dos muros do terreiro que importa. É preciso aceitar que poderá nascer uma
crise do ego se o sujeito não aceitar que por ser médico, advogado, professor, etc., poderá ser inferior na hierarquia do terreiro a uma pessoa que não sabe ler nem escrever, porque no Candomblé não se faz distinção de género, sexualidade, situação económica, origem étnica, nacionalidade, idade, ou outra, mas se respeita a posição na hierarquia. O Candomblé é uma religião de acolhimento, onde o abraço é fundamental para todos aqueles que chegam. Receber bem é o caminho para que a pessoa se sinta integrada na comunidade. A humildade é outro valor fundamental no Candomblé. Para aprender e crescer espiritualmente no Candomblé é preciso aceitar que tudo chega como tempo, que ninguém nasce ensinado, e que o aprendizado não pode ser acelerado, para tanto é preciso ser humilde, aceitar as tarefas e a posição do recém-chegado, do recém-iniciado, etc., ganhando o respeito dos mais velhos e aprendendo os passos fundamentais para que o se venha a tornar um bom “mais velho”, porque um aprendizado apressado é sinal de saber superficial.

O número 28 na Rua da Primavera, numa antiga zona de caça da família real portuguesa, conhecida por Coutada Velha, na vila de Benavente, a 40 minutos de Lisboa, alberga a tradição dos Òrìsà (Orixá). O terreno, com 10.000m2, começou a ser preparado em 2006, num longo processo de sacralização dos espaços, processo essencial para a instalação de uma confraria religiosa, de uma egbé Òrìṣà. São parte do património religioso e destaque do Terreiro da Casa Branca da Sesmaria Velha — Ilé Àṣẹ Ìyá Odò (Ìrandíran Ìyá Nàso Oká) –, o Ilé Èṣù, i.e., a Casa de Exú, o Ilé Fóribalẹ̀, o “barracão” de festas, o Ilé Ọ̀ṣun, a Casa de Oxum, o Ilé Ògún, a Casa de Ogum, o Omi-Adagun Ọ̀ṣun, o lago de Oxum, o pequeno vilarejo dos Orixá-Vodun, com o lago de Nàná, o bambuzal de Oyá, o ilé Igbalé, a casa dos Ancestrais, Orisun Omi Yèmọnjá, a Fonte de Iemanjá, e as inúmeras árvores consagradas.
O terreiro tem por principal regência Oxum, deusa das águas doces e férteis, do amor, da feminilidade. Para além de Oxum, tem regência Oxóssi, o Orixá da providência alimentar, da caça, da fartura, da família, e divindade importante nos primórdios do Candomblé da Barroquinha e Senhor da Cumeeira do terreiro. Além desses dois Orixás, acompanham nessa tarefa Oxoguian, jovem guerreiro, Senhor dos inhames e das revoluções; Oyá, deusa do vento, das tempestades, do rio Níger e da sensualidade ardente; e Ogum, Orixá da metalurgia, da agricultura, dos caminhos, da guerra e da tecnologia.

o que disponibilizamos
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consultas de búzios
O atendimento por meio de consulta de búzios é feito mediante marcação prévia, através dos contatos disponibilizados, preferencialmente por via telefónica móvel (chamada ou WhatsApp), estando sujeito à disponibilidade de agenda.
acompanhamento familiar
O acompanhamento familiar, espiritual e psicológico, é feito mediante marcação prévia, através dos contatos disponibilizados, preferencialmente por via telefónica móvel (chamada ou WhatsApp), estando sujeito à disponibilidade de agenda.
visitas
As visitas ao terreiro são feitas mediante marcação prévia, através dos contatos disponibilizados, preferencialmente por via telefónica móvel (chamada ou WhatsApp), estando sujeito à disponibilidade de agenda.

ìyá sussu
o perfil da nossa líder espiritual, a nossa Mãe, através do olhar de uma jornalista
fique por dentro
compromisso ecológico

Para aqueles que seguem o caminho dos Orixás, a Natureza é sagrada. Nem todos, infelizmente, são capazes de se integrar com a Natureza em todas as formas. A religião dos Orixás, que os negros no Brasil chamaram de Candomblé, ensina que a Terra é o mais sagrado que nós temos, a nossa casa, a nossa Maternidade e Paternidade, a terra que nos gerou, que dá o nosso alimento, a água que mata a nossa sede, que nos revitaliza, que nos alimenta física e espiritualmente, que purifica o nosso corpo, e que fertiliza a terra para que seja fértil, as árvores que nos dão o nosso oxigénio, a sombra que nos tranquiliza nos dias mais quentes, a chuva que enche os rios, fertiliza a terra, o arco-íris que liga céu e terra e apresenta a harmonia entre a chuva e o sol, as lamas que curam e revitalizam, o ar que respiramos, o fogo que aquece, que queimando renova, as folhas que curam e acalmam… a Natureza como casa, como fé, como religião, como devoção.
Por tudo isto, na CPCY levamos muito a sério o princípio ecológico, a preservação da Natureza. Por isso, desde 2010, numa altura em que pouco se fala em consciência ecológica dentro dos terreiros, que defendemos que as oferendas em lugares naturais, sejam matas, bosques, quedas de águas, lagoas, riachos, rios, mares e outros, sejam exclusivamente de natureza perecível, isto é, que se degradem rapidamente, com especial enfoque para os alimentos, pois poderão ser comidos pelos animais e degradar-se facilmente. Nesse sentido, somos contra a entrega de louça, fracos de perfume, pratos, gamelas, talheres, pentes, e demais objetos que representam as oferendas aos Orixás e que poluem os lugares sagrados da Natureza. Se a Natureza é a expressão dos Orixás, sujar é violar as divindades. O mar é o útero de Yemanjá. Que devoto de Yemanjá quer ver o útero da sua Mãe violado?
Ẹ̀TỌ́ ÌRÁNTÍ – o dever da Memória

Na CPCY acreditamos que um povo que não conhece a sua história, um povo sem memória, é um povo devotado ao desaparecimento. Por isso, valorizamos o Atlântico como espaço de construção de identidade e memória identitária, cultural e religiosa. O mar, útero de Yèmọnjá, serviu de bolsa de gestação das múltiplas recriações africanas no Novo Mundo. O mar imenso, o Atlântico gigante, que nas várias costas americanas pariu diferentes preservações identitárias, entre elas o que veio a chamar-se de Candomblé. Jogados a uma condição não-humana, os escravos baptizados e convertidos ao catolicismo, souberam por engenhos vários e cedências teológicas, manter viva as práticas de culto aos Òrìṣà, nos engenhos, em cultos doméstico e, mais tarde, organizados em confrarias religiosas de inspiração católica e de recuperação do modelo das ẹ̀gbẹ́ yorùbá.
Por via de negociação, cedências e circulações atlânticas e terrestres de saberes, o Candomblé tornou-se o espaço de preservação da memória dos povos Fon, Yorùbá e Bantus. Da organização do culto, da criação do xirê, da estruturação da Roda de Ṣàngó, à configuração ritual e iniciática, uma forte negociação diplomática teve lugar, entre os africanos, intensificando um processo histórico de longo-termo em terras africanas, particularmente no Golfo do Benim.
No entanto, os africanos não tiveram, apenas, de enfrentar a negociação entre si para a estruturação de um culto. Essa magna tarefa terá sido, porventura, a mais fácil. O maior desafio foi o de enfrentar a escravidão, o racismo biológico e evolucionista, a perseguição e a proibição do culto, ao longo de quase 200 anos de história do Candomblé.
Em respeito a todo um longo histórico de perseguição, desumanização, proibição, destruição de templos, altares, apreensão de objetos sagrados, defendemos a importância da valorização da memória do sofrimento — Ìrántí Ijìyà –, que não deve ser esquecido, tal como os judeus não esquecem o holocausto nazi.
Em segundo lugar, advogamos o respeito pela memória ritual, pelos fundadores e figuras determinantes da história do Candomblé. Por isso, defendemos que todos os terreiros devem transmitir a memória religiosa candomblecista aos seus iniciados, não apenas ensinando os toques e as danças, mas explicando os seus significados, bem como contando a história do nosso povo e enumerando as figuras que permitiram a constituição do Candomblé, que este se mantivesse vivo e que deram um contributo ritual decisivo.
Como o tempo africano é cíclico, voltamos a começo deste texto lembrando que um povo que não conhece a sua história, um povo sem memória, é um povo devotado ao desaparecimento.
O Processo de Iniciação Religiosa na CPCY

A CPCY é uma instituição que se dedica, sobretudo, a atividades de preservação da memória ritual, histórica e patrimonial (material e imaterial) dos cultos aos Òrìṣà, que na Diáspora brasileira vieram a ser designados por Candomblé, um termo resultante do processo de encontro de culturas africanas diversas. Na qualidade de instituição reconhecida, a CPCY tem uma preocupação particular com o respeito pela laicidade estatal, com a defesa da liberdade e respeito religiosos, e com a harmonia inter-religiosa.
Não obstante, no espaço físico da CPCY, existe um templo (terreiro), onde são realizadas cerimónias, bem como espaços próprios para os ritos iniciáticos. Assim, não sendo esse o principal objetivo da CPCY, é possível a realização de ritos iniciáticos mediante a observação de estritos requisitos, tendo em conta que a iniciação é feita nos moldes do Candomblé tradicional baiano. Tal implica que:
1. Exceto os casos de Ogan (Ọ̀gá) e Equede (Èkèjì), os cabelos serão totalmente removidos.
2. Serão feitas as curas rituais.
3. O tempo a cumprir é o determinado pelo Òrìṣà através do sistema divinatório.
4. Todas as etapas rituais respeitam o princípio da tradicionalidade, ou seja, não serão objeto de negociação, adaptação ou adequação em função de interesses do iniciado.
4.1. podem, todavia, ser objeto de adaptação em casos de limitações físicas (pessoas portadoras de deficiências motoras).
Vivência Religiosa
A vivência religiosa no Candomblé é marcada por etapas rituais que vão introduzindo a pessoa na comunidade e em comunhão consigo mesma, com o seu “eu” primordial, ligado à essência do seu Orixá genitor. A participação ativa na vida da sociedade religiosa que é o terreiro depende da etapa iniciatória. O Candomblé, como outras religiões africanas e de origem africana, é iniciático. Ou seja, para se ser membro efetivo da comunidade religiosa é preciso iniciar-se na religião, adquirir uma identidade religiosa, e celebrar a união com a divindade à qual se está consagrado. A pertença à comunidade religiosa, então, começa, geralmente, com o banho das folhas que purificam, com o primeiro fio de contas (eleke) e depois com o bori, o ritual de preparar a cabeça (morada da divindade, vasilha da identidade humana) para a vida religiosa, para que a pessoa reencontre a sua essência divina, a sua cabeça interior e espiritual. Após essa etapa ou, caso seja designo das divindades ou desejo da pessoa, saltando essa etapa, ocorrerá a feitura ou iniciação, momento em que a cabeça é novamente preparada, agora com rituais mais profundos, para a celebração do vínculo com o Orixá, um vínculo que só se quebra com a morte, altura em que o mesmo se extinguirá, ritualmente. A iniciação no Candomblé demora de 14 a 21 dias ininterruptos(1), durante os quais ocorrem inúmeros rituais de sacralização do corpo, do espírito e a constituição do altar individual do iniciado. Como se trata de um momento de verdadeiro renascimento espiritual, a iniciação no Candomblé comporta a raspagem das cabeças, momento em que a pessoa se renova e renasce com uma nova identidade espiritual (2). Após a iniciação, a pessoa agora renascida irá cumprir as obrigações de 1, 3, 5 e 7 anos, momentos rituais em que renova o seu vínculos, reforça os seus votos religiosos, sendo que na celebração dos 7 anos de iniciado atingirá a maioridade, altura em que passa a ser ebomi (egbon mi), isto é, irmã(o) mais velha(o). É nesta altura que, e caso tenha nascido com esse caminho/vocação/missão, receberá autorização para abrir o seu próprio terreiro, recebendo os direitos religiosos das mães do(a) seu/sua zelador(a) (3).
HIERARQUIA / O Candomblé é uma religião extremamente hierarquizada lembrando uma corte muito formalmente estabelecida, onde o status diz respeito ao tempo de iniciação e aos postos religiosos ocupados. A obtenção de um cargo religioso é um sinal de distinção que não deve acarretar vaidade, mas antes um forte sentido de responsabilidade, pois um terreiro tem inúmeras tarefas que devem ser cumpridas e recém-chegados que precisam ser ensinados, aprendendo de forma humilde, tal como o cargo não deve acarretar prepotência nem autoritarismo.
O DIA-A-DIA DO TERREIRO / O terreiro é um espaço onde existem sempre tarefas a serem cumpridas, desde a limpeza à manutenção dos jardins, passando pelos animais a serem cuidados, ao terreiro a ser limpo e lugares a serem varridos. As tarefas cabem a todos, porque o terreiro é o lugar onde são cultuados os Orixás, sendo de todos, para todos e responsabilidade de todos.
O AXÉ E AS OFERENDAS / O Axé é a energia-vital, a energia primordial do universo que habita em todos os seres e lugares, em maior ou menor grau. Trata-se de uma energia propulsora e finita, que aparece de diferentes formas e se encontra sacralizada em determinados lugares como rios, matas, ou elementos como o ferro e as pedras. Por isso o axé é a energia das divindades. A parcela de energia que existe no terreiro precisa ser propiciada, razão pela qual são realizadas as oferendas rituais, que reativam a energia dos lugares sacralizados do terreiro e servem de moeda de troca com os Orixás, a forma como se buscam as dádivas dos deuses.
(1) só em casos muito excepcionais é que a iniciação poderá ocorrer por um período inferior de tempo. No Ilé Àṣẹ Ìyá Odò – CPCY considera-se que as iniciações de 3 ou 7 dias que hoje se verificam não obedecem à tradição, não constituindo tempo suficiente para a devida preparação do iniciado, excepto tratando-se de ogan ou ekeji (equede).
(2) exceptuando nos casos de ogan e ekeji, a não observação desse princípio, isto é, a iniciação sem raspagem dos cabelos constitui uma desvirtuação da tradição, uma quebra de um princípio elementar da religião Candomblé.
(3) pode suceder que a pessoa seja autorizada a abrir terreiro numa fase anterior aos 7 anos (odunjé) por vontade dos Orixás, mas deverá cumprir os seus deveres religiosos normais. Note-se que esse facto tem caráter de exceção, não devendo ser prática corrente como começa a acontecer hoje em dia.
um pouco de história
O Candomblé
Baseada na memória dos ancestrais e da identidade cultural-histórico-religiosa de povos da Costa dos Escravos, o Candomblé é uma religião expressa na performance ritual, através da liturgia celebrativa, com cânticos que invocam a mitologia das divindades-Orixás, danças que recriam essa mitologia, atualizando no presente a história dos deuses fundadores, e música sagrada percutida nos tambores rituais, os ilú, objetos sacralizados que dialogam com a dança e o cântico, criando uma narrativa por meio de gestos e sons.

Com o comércio de escravos de África para o Brasil, em particular com o Ciclo do Benim, última etapa deste comércio, entre 1770 e 1850, é aportado à Bahia um número elevado de escravos oriundos da região do Golfo do Benim, dos impérios Òyó-Yorùbá e Danxomé (Daomé). Através da organização de irmandades religiosas católicas, tuteladas pelo poder colonial e mais tarde pela coroa brasileira, os escravos eram divididos segundo as suas referências étnicas (muitas vezes referências amplas, chamadas de metaetnicidades), promovendo a recriação das confrarias Vodun e Òrìsà (Orixá). Nesse quadro, surgem os primeiros cultos organizados a Òsóòsì (Oxóssi) e a Sàngó (Xangô), e mais tarde a outras divindades, dando origem aos primeiros terreiros, como o Bogun entre os jeje, o Candomblé da Barroquinha (que viria a dividir-se entre a Casa Branca do Engenho Velho e o Gantois) e o Alaketu, um terreiro de feição eminentemente familiar.
Além da intrincada história religiosa da formação dos primeiros terreiros e confrarias religiosas, o Candomblé é, como dito, uma religião de memória, que pretende preservar as formas culturais e civis africanas que se expressam de forma religiosa, que exalta a ligação entre o sujeito e a Natureza, entre o iniciado (porque o Candomblé é uma religião iniciática) e a divindade à qual é consagrado, e o iniciado e a comunidade, uma vez que o Candomblé é uma religião comunitária, expressa no sentido de família religiosa, onde figura uma dinâmica régia, profundamente hierárquica. É, também, uma religião de transe e adivinhação, de encontro do sujeito com ele próprio. Ao contrário de outras religiões que preconizam a salvação e o caminho individual do sujeito, o Candomblé oferece um caminho de encontro com o “eu” interior através de uma experiência coletiva, de inscrição numa realidade complexa de comunidade.
Palavras da Comunidade
O Candomblé é a religião da vida, por isso não estamos preocupados com qualquer ideia de salvação. Nós celebramos a vida e as suas coisas boas, a fertilidade, a sabedoria, a fartura, a boa mesa, a linhagem, a Natureza… No terreiro somos um só, uma família onde o compromisso, a humildade e a união são fundamentais. O abraço tem de estar sempre presente, pois o terreiro é, para muitos, a família, o lar, que não têm noutro lugar. /Alagbe Junior de Oxaguian
Candomblé, uma palavra tão simples e no entanto tão cheia de significados… candomblé é amor, é humildade, é ancestralidade, é tradição, é respeito, é simplicidade, é fé, é vida, é força que nos cria nos move e nos une, é família, é viagem iniciática, é compromisso, é orientação, é união, é religião … e tantas coisas mais. Hoje sinto com toda a certeza que caminho na direção certa, em que o que importa não são o número de passos, mas sim que em cada passo que dou, dou com amor no coração, dedicação e alegria na alma, com a certeza que até ao fim da minha vida, continuarei a dar passos neste maravilhoso caminho. Muito feliz e orgulho por fazer parte desta família, onde a palavra “família” assume o seu verdadeiro e total significado e sentido. Muito grato ao Òrìsà por me ter guiado até à CPCY e ser filho de quem sou, A Dupé Mãe Sussu por existir. / Jô do “Tio”
Pelo Candomblé viajo…Viajo no CAMINHO e vou… em direcção ao Mar, para dançar com a Dona do meu Ori, Yemanjá que juntamente com Oxalá e Oxossi sempre sussurram ao meu coração. Viajo no TEMPO e vou… ao encontro dos meus ancestrais, repetindo os seus gestos, as suas palavras, os seus pensamentos e assim juntos somos Agora e Sempre. Viajo no CORAÇÃO e vou… em Família nessa união de laços da vivência do Mundano Sagrado em que o Gesto é Vida. Viajo na MISSÃO e vou… percebendo que já nasci abençoado, de missão dada, como cada um de nós, todos criados para fazer a diferença.Viajo no SER e vou… vivendo a sacralidade das folhas, dos animais, dos rios e mares, das florestas, do ar, do céu, do arco-iris, da justiça, da beleza, de tudo o que os meus olhos vêem ou o meu coração sente. O Candomblé é essa Viagem. / Ogan Henda de Yemanjá
Candomblé significa re-nascimento. É Memória, Tradição, Família… os ORISAS apenas reconhecem quem os cultua com Amor. / Dofono Claudia de Oxaguian
Quando conheci a CPCY eu era um abiã que pouco ou nada sabia sobre Candomblé. Lembro como se fosse hoje daquele domingo em que cheguei a comunidade e fui muito bem recebido pela Iyá e por todos, meu coração estava cheio tamanha a paz e a energia que senti ao adentrar os Portões da Herdade de Sesmaria Velha, era como se eu tivesse regressado a Casa depois de muito tempo distante, sentia me parte daquele lugar, como se tratasse de um Reencontro. Desde aquele dia eu comecei a minha trajetória engatinhando como um bebé rumo ao resgate da minha ancestralidade, através dos ensinamentos e da vivência em comunidade comecei a aprender coisas básicas como em qualquer casa aprende um Abiã. Ali o meu corpo aprendeu a curvar-se em reverência ao sagrado, aprendi a primeira cantiga, o primeiro Pao, aprendi sobre hierarquia, sobre respeito aos mais velhos etc. À medida que o tempo passava mesmo sendo um Abiã eu ia me tornando uma pessoa melhor, com ajuda da Mãe e de todos os meus irmãos.
Mesmo tendo tudo, um dia resolvi deixar de ouvir a Mãe e dar ouvidos a outras pessoas, e mesmo sendo alertado pela Mãe resolvi me aventurar por novos e desconhecidos caminhos, não demorou muito para ver que tinha feito a escolha errada, mas voltar atrás e admitir que errei e tentar reparar o erro por mim cometido, implicaria em engolir o Orgulho, passar por cima de tudo e no mínimo pedir perdão a quem sempre esteve correto, e eu ainda não tinha maturidade para isto, achei mais fácil seguir.
Passaram-se vários anos e durante este tempo passei por muitas coisas e por algumas casas, o que me trouxe sérios problemas, não foram poucas as vezes que me lembrei das palavras e dos concelhos sábios da Mãe , muitas vezes senti falta do carinho e da sabedoria dela que sempre me auxiliava, da união e da humildade de todos meus irmãos , muitas vezes me senti deslocado, aquela sensação de paz de reencontro que sentia antes já não mais existia, o conceito de família muito menos , a força, a união. Me via em meio a uma nova realidade antes tão criticada e abominada por mim, estava entre eles, mas não era um deles.
Hoje venho através desta carta formalizar, embora em palavras não consiga expressar o que sinto, Um pedido de Perdão a Oxum, Orixá da Casa, a Mãe Sussu, A meu Pai Ogan Junior de Oxoguian, A mãe Cláudia e ao meu Pai Ogan João e a todos meus Irmãos da CPCY. Sei que pedir Perdão não vai apagar meus erros nem tão pouco me safar das consequências de tal ato, mas é uma forma de demostrar o quanto eu sinto por ter cometido tal erro e virado as costas um dia a todos Vocês. / um filho do “Tio”
reconhecimento de terreiros
A Comunidade Portuguesa do Candomblé Yorùbá (CPCY) não visa o controlo das atividades sacerdotais em Portugal, não interferindo com as práticas de culto nos demais terreiros. No entanto, enquanto representante legal do Candomblé, reconhecida pelo Ministério da Justiça, a CPCY dispõe-se a trabalhar com os terreiros sob estreitos princípios e aceitação informada de um conjunto de regras de precedência da CPCY. Dessa forma, através de protocolos de integração no quadro da CPCY cedem-se direitos religiosos que de outra forma não seriam possíveis adquirir, garantindo proteção jurídica ao abrigo da lei religiosa portuguesa. Para tal, deverá ser solicitada uma reunião de clarificação com a Direção da CPCY. A CPCY salienta, todavia, que a manifestação de interesse não se traduz numa aceitação ou admissão do pedido de modo imediato, uma vez que a natureza jurídica da mesma não é associativa, isto é, não se acede através da admissão como “associado”. Dessa forma, será dada preferência, em termos reconhecimento dos terreiros, àqueles que (a) sejam diretamente oriundos da CPCY, ou seja, de membros da casa iniciados e preparados para o sacerdócio, (b) pessoas que não sendo iniciadas na CPCY concluem o seu trajeto religioso nela, (c) egbonmi que manifestem interesse na “troca de água” para a CPCY.
Sacerdotes Reconhecidos pela CPCY
1. a pessoa individual deverá ter sido indicada pelo sistema divinatório como portadora dessa missão/vocação.
2. a pessoa individual, ao abrigo do disposto no n.º anterior, deverá ter cumprido as obrigações que conferem o estatuto de senioridade.
a) considera-se que a pessoa individual atinge a senioridade quando realizou a obrigação dos 7 anos. A contrario, qualquer pessoa (exceto ogan e equede) que não tenha realizado tal obrigação permanece no estado religioso de iaô (ìyàwó).
3. a pessoa individual, tendo cumprido o disposto no n.º anterior, receberá as devidas credenciais materiais, composta pela cuia ritual e por documentação própria para o efeito.
4. Observando-se todos os trâmites anteriores, a pessoa individual permanece adstrita a um conjunto de deveres face à CPCY, na condição de Casa-Mãe, previstos na Diretiva Interna n.º 1/2018.
Mais se informa que a CPCY não atribuiu a qualquer pessoa iniciada na mesma ou de outra origem qualquer reconhecimento sacerdotal. Assim, tirando a Líder religiosa desta Instituição, não há qualquer sacerdote acreditado pela CPCY a exercer funções.
